Estórias do Planalto - A raposinha

Mantenha-se a distância dos animais, não os alimente, observe-os com binóculos

Estórias do Planalto – A raposinha

Estórias do Planalto – A raposinha

“Uma bela tarde de primavera, saio para uma caminhada pelo “meu” planalto.

Ainda há maias nas giestas mas o planalto já não tem aquela cor que tinha há duas semanas, um misto de amarelo e roxo a perder de vista, tenho pena, há muitos anos que não vejo o meu planalto no seu momento mais colorido.

Apesar de o conhecer perfeitamente, o planalto tem sempre coisas novas para me mostrar, fauna, flora ou mesmo história! Sim, no planalto existe a maior necrópole megalítica da Península Ibérica! Datados entre o Neolitico e a idade do Bronze os monumentos espalhados pelo planalto ocupam uma área de 50Km2(alguns em território Galego).

Desta vez presenteou-me com um dos mais fascinantes e belos animais que lá se podem encontrar.

Assim que começo a sair dos prados cercados e começo a entrar no planalto propriamente dito vejo ao longe uma mancha castanha a destacar-se no meio do verde sarapintado de amarelo.

Pensei: “Caramba! queres ver que é o lobo que está ali??” Rapidamente percebi que não era o lobo mas sim a sua prima mais pequena e mais matreira.

Tento aproximar-me o mais possível para conseguir fotografias com alguma qualidade, sim, porque o pessoal ás vezes pensa que se tiveres uma tele-objectiva “grande” podes tirar fotos ao longe, mas não é verdade, neste tipo de fotografia se quiseres boa qualidade/detalhes tens de te aproximar o máximo que conseguires!

A cada passo que dava estava sempre á espera que a raposa me visse e fugisse a sete pés! Tinha o vento a soprar de frente e penso que o facto de vestir roupa escura/camuflada também terá contribuído para não ser detetado.

Só avançava quando via que a raposa estava distraída parando imediatamente assim que ela levantava a cabeça. Andava a caçar grilos, um comportamento normal nesta altura do ano, os insetos representam um papel importante na alimentação destes canídeos.

Fui avançado de arbusto em arbusto, tive a sorte de naquela zona haver algumas giestas e urzeiras relativamente altas que me ocultavam do olhar atento que a raposinha lançava de vez em quando em várias direções.

Com esta estratégia consegui chegar a última giesta e fiquei a poucos metros da raposa, talvez uns 20 ou menos, já dava para fazer algumas fotografias com qualidade.

Fiquei ali a observar e a fotografar pensado sempre que a qualquer momento iria ser detetado. Uso a máquina em modo silencioso e o facto de ser “Mirrorless” significa que o modo silencioso é mesmo silencioso! o que é uma grande vantagem para quem fotografa vida selvagem.

Além de não ter sido detetado verifico com grande surpresa que a raposinha começa a movimentar-se na minha direção aproximando-se cada vez mais, chegando ao ponto de ter de “tirar” zoom para caber toda na fotografia.

Naquele momento até tive a sorte de o céu estar nublado garantindo a melhor luz possível aquela hora, se fosse com o sol forte do inicio da tarde iria ter sérios problemas com as cores e sombras nas fotografias.

A dada altura quando a raposa começa novamente a afastar-se e eu já nem sequer tirava fotos, só observava, aparece um tartaranhão-caçador(uma ave de rapina pequena, pouco comum, mas que no Planalto é presença habitual durante o período estival) e ataca a raposa obrigando-a a dar um salto no ar para se defender! Este momento era a cereja no topo do bolo, infelizmente só o consegui registar na minha memória e não na memória da máquina!

Pelo “timestamp” das fotografias verifico que estive quase uma hora (primeira foto ás 13:38 e última ás 14:31) ali, imóvel, a observar este belíssimo animal no seu estado mais natural e selvagem que se pode encontrar! Que sorte do caraças!!!

Passadas duas semanas não me canso de rever as fotografias e recordar este momento único! A dificuldade agora é escolher uma que o represente condignamente…

Castro Laboreiro – Junho/2020

P.S. Conselhos para quem visita o Parque Nacional:

– Desfrutem ao máximo da natureza sem interferir.

– Não façam fogueiras.

– Não deixem lixo.

– Respeitem as pessoas que lá moram.

– Respeitem também os terrenos privados, não derrubem os muros nem pisem a erva. Todos os terrenos cercados tem dono!

Façam isso e serão sempre recebidos de braços abertos!”

Texto e fotografia de Norberto Esteves

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Pode espreitar mais alguns artigos do Norberto Esteves clicando nas fotografias abaixo

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Fique atento(a) a sinais como penas, fezes, pegadas, pinhas roídas (pelos esquilos, p. ex.), marcas de pernoita ou solo revirado pelos javalis. Se vir uma ave a olhar para cima, isso poderá indicar a presença de uma ave de rapina em voo. Observe o céu, mas sem deixar de ver onde põe os pés.

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PNP Gerês

Tome precauções especiais quando caminha em zonas húmidas e rochosas, para evitar quedas, e não pratique atos que possam colocar em risco a sua segurança e a dos outros. Não saia dos percursos/trilhos e caminhos existentes