Mundo animal
Texto e fotografia de Norberto Esteves
Num belo dia de sol de inverno arranco para mais uma caminhada pelo Planalto.
Tinha percorrido menos de 2 km quando vejo ao longe 3 pontinhos brancos no meio da vegetação. Olhando com mais atenção percebi que eram 3 corços que andavam a pastar tranquilamente.
Fui avançando em direcção a eles, muito lentamente, parando cada vez que um deles levantava a cabeça.
A meio caminho deixei de os ver ao passar numa zona mais baixa do terreno. Continuei a avançar com muita cautela e sem fazer barulho, saí da depressão do terreno e não os vi em lado nenhum… Pensei: “Caramba, devem ter-me pressentido e já se puseram na alheta!!”
Avanço mais uns metros e de repente vejo uma cabecita meio escondida atrás de uma uzeira, dava para ver que era um macho pois tinha as hastes já a nascer, devia estar na hora da sesta, estava deitado a repousar de olhos fechados! Tentei aproximar-me de outro ângulo de forma a não ser detectado, e estava a conseguir, só não contei com os outros dois que estavam mais à frente. A determinada altura devem ter-me visto pois levantaram-se e ficaram em estado de alerta vermelho a olhar na minha direcção.
Fiquei agachado sem me mexer durante algum tempo e aparentemente resultou, seguiram em frente calmamente, olhando de vez em quando na minha direcção, desconfiados.
O outro corço também se levantou, olhava em várias direcções, muito atento, mas por incrível que possa parecer não me viu! E estava a menos de 15 metros de mim!!
Tinha a máquina em modo silencioso e fui “disparando” apesar de estar em contra-luz e numa posição muito complicada para conseguir uma foto decente.
Tentei levantar-me e mudar de posição, correu mal, fui detectado! Agora sim, viu-me e ficou especado a olhar para mim! Pensei: “Pronto , acabou-se, se me mexo foge a 7 pés!” por isso não me mexi e esperei pela reacção dele.
Foi quando aconteceu uma coisa inacreditável, o corço não fugiu, em vez disso decidiu fazer um semi-circulo à minha volta, talvez para me apanhar a favor do vento e tentar detectar-me pelo cheiro? não sei, só sei que à medida que ia rodando ia ficando cada vez mais próximo e com melhor luz e melhor enquadramento para a fotografia! “Só mais um bocadinho para a esquerda!” pensava eu enquanto ia “clickando” e “tirando” zoom à objectiva.
Parou a 5 metros de mim, a esta distância já não havia hipótese, finalmente percebeu que era um humano que estava ali agachado, fugiu ladeira abaixo até perder de vista.
Só quando me levantei é que percebi que tinha estado ajoelhado com um joelho na lama gelada e o outro num tojo! Não faz mal, valeu pelo momento incrível que passei frente a frente com este ser fantástico!
Corço (Capreolus capreolus) macho.
Castro Laboreiro – 29/12/2019
Para espreitar alguns artigos já partilhados basta clicar nas fotografias abaixo
Fique atento(a) a sinais como penas, fezes, pegadas, pinhas roídas (pelos esquilos, p. ex.), marcas de pernoita ou solo revirado pelos javalis. Se vir uma ave a olhar para cima, isso poderá indicar a presença de uma ave de rapina em voo. Observe o céu, mas sem deixar de ver onde põe os pés.
Obrigado pela sua visita e partilha – Parque Nacional – Portugal – www.pnpgeres.pt